Caro Irmão Luan,
Eis o que eu acho (acerca de uma tal de graça comum que anda por aí arminianizando):
1. Esta doutrina não é ensinada em nenhuma das Confissões Reformadas. Se não é, então temos duas conclusões possíveis: 1ª é que esses irmãos que ensinaram a Bíblia não ensinaram todo o conselho de Deus; 2ª Como essa doutrina não é uma extensão ou desenvolvimento de um ensino nas Confissões e Credos da Igreja mas é uma inovação só pode ser HERESIA.
2. Quem faz confusão e não entende a diferença do que a Bíblia ensina é quem crê na doutrina da graça comum, pois confundem graça comum com providência, esta sim uma doutrina muito bem ensinada nas confissões reformadas. Providência não é amor de Deus aos homens mas sim seu governo sobre a Sua criação tendo em conta o Seu prazer e Seu plano para a Sua igreja.
3. Os eleitos têm em comum tudo com os não-eleitos menos o amor de Deus! A diferença é essa. Afirmar, como fazem os Calvinistas e reformados que defendem a graça comum, que também temos a graça de Deus em comum e que o Espírito de Deus age no coração de pecadores réprobos de maneira que eles não são totalmente depravados (agride a doutrina da total depravação) e que são capazes de fazer o bem e agradar a Deus (é arminianismo, que defende que têm algo que ainda podem usar para escolher o bem).
4. Creio que Deus nos manda amar nossos inimigos, porque somos testemunhas Dele neste mundo e reflectimos a perfeição de Deus nesse amor fazendo com estes nossos inimigos o que Ele fez connosco sem no entanto ter o poder em nosso amor de os converter. Aqui, ao amarmos um inimigo que dolorosamente nos aflige e nos provoca à ira, conhecemos o amor de Deus e compreendemos um pouco melhor (ainda que muito pouco - como Paulo dizia em seus sofrimentos) o quão grande amor Deus teve por nós. Assim, este mandamento tem por motivação unicamente a glorificação de Deus e nos leva a uma revelação do nosso Deus como o nosso grande Salvador! Deus também nos amou unilateralmente (sem nosso amor, nem razão alguma para o fazer) e nós vamos amar unilateralmente neste mundo em todo o tempo... Graça Comum arruína esta posição especial do crente, pois nos tornamos amantes das coisas boas que as pessoas fazem para nos agradar - como que Deus também tivesse tido razões em nós para nos amar?!?!?!
5. Graça de Deus tem tudo a ver com o amor de Deus em Si mesmo como a única fonte verdadeira da perfeição, na Trindade: O Pai pelo Filho e o Filho pelo Pai, pelo Espírito Santo! Só a doutrina da Graça Irresistível mantém essa unidade e completa perfeição divina pois a graça somente aos eleitos é uma graça que respeita a ordem desse amor de Deus em Si mesmo: o eleito tem o amor do Pai (predestinação dos eleitos) e o amor do Filho (expiação dos eleitos) e o amor do Espírito (regeneração dos eleitos). A graça comum destrói essa unidade trinitariana de Deus: é um amor que se perde numa intenção e num tempo... e é um amor fora de Si mesmo: Deus ama o réprobo porque a sua natureza enquanto criatura é digna de amor de Deus como Criador, não entendendo que toda a criação de Deus foi para o Seu prazer! Prazer este que está sujeito à Sua autoria como Criador e não pela matéria à parte Dele mesmo. Deus não ama nada fora Dele, nem tem nada que esteja fora do seu alcance.
6. Deus ama com uma graça comum? Pra cego, basta então ouvir os gritos de milhões de crianças que neste momento choram com moscas nos seus olhos e sem pão nas suas bocas? Comum? Este mundo é tudo menos comunista, lol. A uns Deus dá e a outros não. É claro como água. Deus dá a uns olhos para ver as cores que criou e a outros não - se estes não têm estas coisas simples da vida em comum terão as realidades superiores?
Aquele abraço irmão e fica sabendo que gostei e aprendi com aquilo que escreveste para o sujeito incrédulo.
Nuno Pinheiro
3 comentários:
Caro Nuno,
Eu concordo com você,
Infelizmente muitos tem dificuldade em entender a graça comum.
Obrigado por tirar as minhas duvidas.
Graça e Paz
Nuno,não fecha essa questão!
Provavelmente a posiçâo calvinista mais conservadora está correcta. Mas,alguns reformadores abordaram essa questão.Não aqueles que nós conhecemos como os mais influentes. Mas é bom ler um pouco mais a respeito. Afinal esse tema é abordado em Soteriologia.
Um abraço forte
Caro Pr. Daniel,
Eu não sei se o que chamavam graça comum naquele tempo teria o mesmo significado dado por Kuyper ou Berkhof, mas tanto quanto sei não falavam do mesmo. Se no entanto agradeço me puder ajudar a encontrar material que eu possa ler.
No entanto, não é evidente que o ensino do século 20 sobre graça comum é uma violência às Confissões? Mais me parece um casamento forçado entre aqueles que na altura amedrontados pelo irromper do liberalismo, procuravam consertações entre os inimigos hitóricos da fé reformada - os arminianos heréges.
Será normal que hoje tratem por irmãos aqueles que outrora foram inimigos da fé cristã? Wesley e Toplady, que se morderam em vida podem ser ambos colocados nas nossas prateleiras lado a lado com coerência?
Eu creio que Toplady era meu irmão, e por muito que esteja na moda louvar Wesley, para mim este não passou de um sincero Tetsel, desta feita à lá evangelique!
Não é verdade que um criador de porcos "ama" seus porcos de uma forma muito peculiar de "amar"? Mas se um servente lhe disser que seu amor aos porcos é comum aos dos seus filhos não será uma afronta ao senhor da quinta?
E outra coisa que morreu no século XX foi a antitese. A graça comum matou a antitese na igreja. Deixou de haver muro entre a igreja e o mundo do lado de lá da eternidade e tudo passou a ser feito do lado de cá do tempo. Isso não é arminianismo?
Enfim, mesmo que eu veja outros reformadores serem mais brandos na verdade, só vejo aí razão para eles não terem sido usados mais abundantemente por Deus na Sua obra de restauração da Igreja de Cristo.
Contudo, posso estar enganado...
Abraços,
NP
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